Muito
já se fala sobre a poluição ambiental, mas pouco se fala sobre sua
relação com o consumo de carne. A carne que consumimos provém da
atividade pecuária que impacta diretamente na poluição e aquecimento do
planeta. Não temos noção da grandeza dessa relação entre consumo de
carne e sua produção e temos menos ainda noção da nossa responsabilidade
diante disso tudo.
A
pecuária é responsável pelo consumo de grande quantidade de água,
grãos, combustíveis fósseis, pesticidas e drogas. As conseqüências dessa
atividade atingem a esfera ecológica e sócio-econômica. As
conseqüências ecológicas se dão através da destruição dos ecossistemas,
perda de biodiversidade, erosão do solo, desertificação, escassez de
água, contaminação do solo e da água e efeito estufa. As conseqüências
sócio-econômicas acontecem pela fome, conflitos sociais e disputa de
territórios.
A escassez dos alimentos
Percorrendo
por todo o caminho de consequências destrutivas do consumo de carne e
criação de gado, iniciamos pelo mito da escassez dos alimentos. O que o
planeta produz em grãos não é suficiente para alimentar a população
mundial por isso a carne é fundamental, será verdade? A produção mundial
de grãos ultrapassa 1,86 toneladas de grãos, superando a quantidade de
calorias produzidas necessárias para o consumo mundial. O que acontece é
que, dessa produção total, 465 milhões de toneladas de grãos
(principalmente soja e milho) são destinadas à alimentação do gado. A
produção de carne representa um uso ineficiente da quantidade de grãos,
pois é preciso cerca de 11 à 17 calorias de grãos para se produzir 1
caloria de carne. O resultado desse desvio da alimentação para geração
de carne é a fome mundial. Somente no Brasil, cerca de 46 milhões de
pessoas passam fome. A
solução não é apenas aumentar a produção de alimentos não é o ideal,
pois muito já se produz, mas diminuir a criação de gado, que acarretaria
também em outros benefícios para o planeta e melhor distribuição de
alimentos.
O desmatamento
A
criação de gado também é responsável pelo desmatamento, pois para a
criação é necessária a formação de pasto. A destruição das florestas
chega a índices alarmantes anualmente. Na Amazônia, cerca de 25.000 Km²
de área de floresta são desmatadas por ano para a extensão do pasto
sendo que mais de 1/3 do gado bovino brasileiro encontra-se na região da
Amazônia. E com o desmatamento, não só as árvores são destruídas,
acontece também a destruição de habitat natural, supressão da fauna
nativa (predadores e competidores) e introdução de forrageiras invasoras
(danificam o solo e modificam o meio).
A deteriorização do solo
A atividade pecuária também é responsável pelos problemas causados no solo. O overgrazing, termo utilizado para o superpastoreiro, é responsável pela desertificação de algumas áreas. O overgrazing
nada mais é que uma grande densidade de animais, numa mesma região,
pisoteando e, assim, compactando o solo. Essas áreas perdem a vegetação
natural e assim o solo fica exposto aos efeitos dos ventos. O solo
compactado torna-se também impermeável, impedindo a penetração da água
das chuvas até o lençol freático. A partir desse processo, depois de um
tempo, tem-se a erosão e desertificação daquela área. Observa-se a
presença desses efeitos naturais em regiões onde houve, além do
desmatamento, a criação extensiva de gado. Na China, uma das causas da
formação do deserto é o pastoreiro, durante muitos anos consecutivos, de
cabras e ovelhas.
A escassez de água
É
informação estatística que cerca de 1/3 da população mundial vive em
regiões onde há escassez de água. É fato também que 70% do uso da água é
para fins agrícolas, seja para produção de grãos ou para produção de
carne, lembrando que boa parte dos grãos produzidos vai para a
alimentação das criações de gado que consumimos. O processo é assim:
quanto mais consumimos carne, mais influenciamos no desperdício de água,
pois mais água será usada na produção de carne (desde a utilização para
a sobrevivência e lavagem dos animais até a lavagem e manutenção das
carcaças destes) e na produção de grãos para esses animais. As pessoas
já desperdiçam água normalmente nas atividades de sua rotina e
consumindo carne ajudam mais ainda nesse desperdício. A água, se fosse
utilizada somente para produção de grãos para consumo humano e se não
fosse tão desperdiçada, não seria uma questão de preocupação global.
A poluição da água
Quando
falamos da relação entre água e pecuária, não é só de desperdício que
tratamos, mas também de poluição. Os resíduos gerados pela produção de
carne acarreta na poluição de rios e lagos causando a eutrofização¹ de
água, proliferação de algas, mortalidade de peixes, risco à saúde
pública e contaminação. Esses resíduos são basicamente uma grande
quantidade de esterco que não podem ser utilizados na adubação de terras
para agricultura. Sua utilização requer armazenamento, tratamento,
transporte e distribuição, processos que aumentariam os custos e que não
poderiam ser repassados para o preço da carne. Ainda, na utilização do
esterco como adubo, existe a questão da contaminação do solo, pois nas
fezes dos animais são eliminadas toxinas provenientes de antibióticos
para tratamento do gado. Somente nos EUA, a cada ano, são produzidos
mais de 1,4 trilhões de quilos de excrementos animais. Estes
excrementos, na maior parte das vezes, não são direcionados para nenhuma
estação de tratamento de esgotos, sendo inadequadamente disposto no
ambiente, contaminando solo e, consequentemente, água.
¹
Em ecologia, chama-se eutrofização ou eutroficação ao fenômeno causado
pelo excesso de nutrientes numa massa de água, provocando aumento
excessivo de algas. Estas fomentam o desenvolvimento dos consumidores
primários e elementos da teia alimentar nesse ecossistema. O aumento da
biomassa pode levar a uma diminuição do oxigênio dissolvido, provocando a
morte e consequente decomposição de muitos organismos, diminuindo a
qualidade da água.
Efeito Estufa
Entre
os diversos gases emitidos e que provocam o aquecimento global, o
chamado efeito estufa, um dos vilões é o gás metano. O efeito estufa é
provocado pelo acúmulo de gases (dióxido de carbono, metano, óxido
nitroso, entre outros) na atmosfera, que retém o calor e cujo excesso
provoca o aquecimento global. Desses gases, o pior deles é o metano,
cerca de 20 vezes mais poluente que o dióxido de carbono, que é emitido
principalmente pela poluição gerada pelos meios de transporte. O gás
metano é resíduo gerado do processo de ruminação dos animais herbívoros.
A pecuária representa cerca de 22% da poluição mundial e devido a
criação intensiva de gado, existem regiões no mundo em que a poluição
gerada por essa atividade supera a poluição das grandes cidades.
O que fazer?
Pode-se
concluir então que a solução é eliminar toda espécie de gado? Não. A
questão é que a criação dos animais em larga escala é o que gera todo
esse impacto ecológico, econômico e social. É importantes compreendermos
a grandeza desse processo e nossa responsabilidade enquanto
consumidores. Quanto mais carne consumimos, mais incentivamos a criação,
mais poluímos, mais contaminamos água, solo e ar, mais contribuímos nas
desigualdade sociais e mais contribuímos para o agravamento do efeito
estufa.
Existem
algumas linhas da pecuária que acreditam na criação do “gado verde”, ou
seja, o gado criado de forma extensiva e alimentado sem o uso de grãos.
Esse processo não resolve todo o problema, mas ameniza. Já é bastante
utilizado no Brasil porém, por outro lado, a criação extensiva também
tem ligação direta com o desmatamento das florestas, pois o gado é
criado solto e demanda grande área de pastagem.
Uma
outra linha de pensamento defende a adoção de um padrão de alimentação
sem o consumo de carne, o vegetarianismo. A adoção da dieta vegetariana
seria uma forma de consumir sem agredir o meio ambiente. Os que defendem
esse pensamento afirmam ser este um modo de vida mais sustentável, de
maior benefício para todos e que, adotados por grande parte da
população, geraria uma paralização no processo de degradação ambiental.
Independente
da dieta, resta-nos estar atentos à nossa influência nesse processo.
Deixar de comer carne, reduzir o consumo ou não é uma opção individual,
mas responsabilidade de todos.
"Quando
a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o
último peixe for pescado, aí, sim, eles verão que dinheiro não se come".
Chefe Sioux
Post publicado no blog Lado B Lado A em 27/12/2011
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